Boa noite caros colegas
Estive a ler o protocolo, e confesso que nunca tinha visto nenhum.
Há vários pontos a aclarar em que gostaria de partilhar a minha reflexão convosco.
- a obrigatoriedade do traje, considero classista, porque é uma despesa incomportável para a grande maioria das e dos colegas A capa seria um elemento suficiente normalizador e uniformizador da tradição académica, além de ser muito mais acessível, economicamente, a compra só da capa.
- a utilização de um conceito de avaliação moral e subjetivo de "sinais de vaidade ou riqueza"...de onde veio isto de algum código do "Tribunal do Santo Ofício"? Inaceitável a todos os níveis.
- Unhas, cabelo, maquilhagem, adornos no cabelo, proibição e uso de relógio, tapar piercings, (onde nós chegámos), uso de brincos, uso de anéis, a definição de discrição nas orelhas, fios, pulseiras......o ridículo é tão grande que fico por aqui.
Queridos, e queridas colegas, não conheceram a ditadura do Estado Novo e ainda bem. Eu conheci e digo-vos que muitos censores da época invejariam este protocolo neste ponto das proibições e muitas mulheres como as "três Marias" morreriam de vergonha de saber que 50 anos depois do 25 de Abril há quem esteja a persistir nos códigos censórios de costumes contra as mulheres, e exatamente nos mesmos pontos que eram usados na ditadura, a sua semelhança até causa calafrios. Como é possível não haver espírito crítico? Como é possível algumas mulheres aceitarem isto? Até me atreveria a arriscar que tudo isto foi feito por homens, ou não fosse o patriarcado ainda hegemónico.
Caros e caras colegas, eu proponho a eliminação do ponto proibições e se quiserem, em algumas coisas inócuas, coloquem umas simpáticas sugestões, mas sempre à consideração dos e das colegas.
Não tenham dúvidas que há por aí muita estrutura mental, que a nível de hábitos e costumes ainda não saíram da ditadura nem do patriarcado machista, mas compete-nos a nós estarmos atentos e pô-los na ordem democrática e no espírito da República.
Talibanizar ou irânizar hábitos e costumes contra as mulheres tem de estar fora de questão.
Bater-me-ei pelos princípios democráticos, republicanos e constitucionais, nesta questão que considero bastante ofensiva de todos esses princípios. Se os outros fazem igual? Tanto pior para os outros...onde está, então, o nosso sentido crítico? Não pode ser...
Fica então, formalmente a minha proposta, da retirada desse ponto das proibições.
Sou pela tradição académica, claro que sou, mas a outra, a republicana, democrática e liberal de hábitos e costumes, que respeite as mulheres.
Saudações académicas
Francisco Colaço